Edição
CIAMH
Ano
2004
Número de páginas
100
Dimensão
20x20cm
workshop at FAUP
“O modo como se desenvolveu este workshop prende-se de algum modo com a vontade de realizar uma reflexão e a consequente experimentação sobre uma metodologia de produção e organização do espaço de habitar contemporâneo, o modo como o frequentamos, como o desejamos, mas, e sobretudo, como o questionamos.
A divisão em quatro áreas que corresponderam a quatro tempos de trabalho; a observação, a organização, a representação e finalmente a construção do espaço de habitar, foi apenas uma síntese inicial estratégica. Um ponto de partida e de chegada, talvez redutor, mas que permitiu desenvolver um processo metodológico que se afastava propositadamente de algum possível processo instituído, não desenvolvendo nem estimulando o recurso ao estudo sobre a tipologia, nem a um mero processo de intuição, nem à tradição mas e tão-somente a um processo de abstracção e de reflexão que torna o quotidiano o secreto desejo, o motor para o pensamento e a produção do espaço de habitar “sem contexto” ou melhor neste próprio contexto.
O método de trabalho desenvolveu-se assim, na tentativa de provocar algum afastamento com a realidade específica, “contextualista” própria da disciplina, e do modo diferente que a escola ensina. Ir ao “subjectivo”, ao “gosto” ao injustificável, ao secreto desejo, para recolher as premissas e assim verificar se estas podem desenvolver novos ou velhos modos de habitar, novos ou velhos modos de projectar.
A proposta de investigação sobre o habitar centrava-se assim em dois níveis distintos: um sobre a de definição do habitar como reflexão sobre o nosso “estar no mundo” e, por isso, sobre a definição do nosso espaço contemporâneo; outro, trabalharia sobre a forma de o produzir e de o projectar, questionando com modelos e ideias por vezes alheias à disciplina e aos programas ou funções que o moderno e a tradição já desenvolveram e que transformaram a casa nessa “máquina de habitar” funcional e estável.
Terá sido o consequente bombardear de desejos e de abstracções capazes de subverter e de apropriar as funções do habitar-máquina, em acções de vida neste descontinuo e imprevisível quotidiano, pouco científico, algo híbrido e pluricontextual – que legitimou alguma reflexão em torno de propostas receptáculo, como contentores de vivências e de afectos. Por uma ou outra via, por uma ou outra reflexão, o habitar contemporâneo, parece querer-se transformar em artefacto, ou gadget que não descreve um ideal de casa mas uma ideia de utilização e de apropriação como valor.
Sem a pretensão de uma conclusão ou de uma síntese deste processo de reflexão, de experimentação e de trabalho árduo, sobre o tema, que intensamente, 24 sobre 24 horas mobilizou esta Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde se intersectou o habitar com o desejo, poder-se-á tendencialmente perceber, o subtil e secreto desejo de um novo habitar onde a casa parece estar lá fora e paradoxalmente, não ter espaço interior.
No entanto arriscaria a dizer que, mais do que os resultados, ou a qualidade dos projectos realizados, a conquista maior terá sido seguramente, a validação do próprio processo e a capacidade de ultrapassar esse medo … de desejar.”
Nuno Lacerda Lopes
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