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    ISBN
    978-989-98808-9-4

    Edição
    CIAMH, FAUP

    Ano
    2018

    Número de páginas
    152

    Dimensão
    14,5x22cm

    — 10 SÉRGIO FERNANDEZ

    “Trata-se de uma colecção de entrevistas feitas pelo arquitecto Nuno Lacerda Lopes. São conversas entre arquitectos da Escola do Porto onde se procura compreender o processo de construção de um ideal de arquitectura, de profissão, de sociedade e de escola, tendo por base uma reflexão pessoal e aberta e até esclarecer as inquietações teóricas e práticas bem como as circunstâncias que fundamentam a arquitectura portuguesa dos dias de hoje.”

     

    Excerto

    Bom dia, Arquitecto Sérgio Fernandez, docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e agora também da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Minho. Agradeço desde já esta entrevista, arquitecto com uma experiência notável no domínio, quer no ensino, por um lado, que é professor e também em termos de projectos de habitação colectiva, em que destaco o edifício da Pasteleira, em co-autoria com o Arquitecto Pedro Ramalho, a sua colaboração no SAAL, e ainda a sua casa em Caminha, que podemos rapidamente destacar entre outras obras de grande qualidade que iremos aqui falar. Gostava de começar por te perguntar, como foi a tua formação, como era esse período quando acabaste o curso e como e quando começaste a trabalhar?

    Em relação à minha formação, eu fiz o curso ainda na Escola Superior de Belas Artes no Porto e ainda num regime que era a reforma de 36, no fundo, tinha um percurso que era pautado por 4 anos, chamado curso especial e depois quem tivesse mais de catorze de média passava ao curso superior e completava o curso, portanto eram 6 anos mais estágio, como se faz agora, e prova final, que na altura era chamada de tese.

    A escola representava um centro de modernidade, embora com muitas aspas, porque era liderada por o professor Carlos Ramos, que era de facto um homem muito arejado, muito civilizado e um homem de influências directas, não tanto da Bauhaus, mas do Gropius. Portanto, um homem apostado na modernidade que tinha – previamente à minha entrada, mais ou menos pouco tempo antes – tinha mobilizado uma série de gente nova com assistentes, dos quais se destacam o Távora, o Filgueiras, depois mais tarde o Arnaldo Araújo, o Loureiro que representavam uma certa lufada de ar fresco na escola, onde ainda havia uma série de gente muito retrograda, embora gente com valor, como por exemplo, o Rogério Azevedo, que foi meu professor.

    O Rogério Azevedo era um homem com muita cultura, não tenho qualquer dúvida sobre isso, era realmente interessante nas conversas que fazia, e praticamente, só fazia conversas; ele muitas vezes se interrogava na aula a que ano é que estava a dar? Não sabia, não sabia nem lhe interessava.

    Era um homem muito culto e muito interessante, mas muitíssimo reaccionário e tudo o que lhe cheirasse vagamente a uma arquitectura progressista, ele reagia. O que é estranho, porque é um homem que fez a Garagem do Comércio do Porto, mas depois fez todo aquele percurso que todos conhecemos. Havia assim um misto na escola, de um certo peso da tradição, e depois uma gente nova que estava apostada de facto em… e que era a que tinha mais importância na escola. Lembro-me perfeitamente do Loureiro, do Távora que tinha uma grande influência e o Filgueiras também, e o próprio director Carlos Ramos.

    Fiz a escola nesse misto, nesse percurso mais ou menos complexo e onde já não havia aquelas barreiras que tinham caracterizado a primeira luta pela arquitectura contemporânea, arquitectura moderna em Portugal. Nós tínhamos revistas, tínhamos já uma série de acessos a coisas que se fazia lá fora. Mas apesar de tudo, o que a escola era – agora creio que há uma alteração muito profunda – era teoricamente muitíssimo vazia. Nós tínhamos uma formação que era muito formalista, eu lembro-me por exemplo, que as representações nas entregas dos trabalhos, as paredes não tinham espessura, não valia a pena, era só apenas indicar a divisão de um sítio para o outro; era muito formalista, os problemas da construção eram muito descuidados, aliás, eu tinha como professor de construção o Rogério de Azevedo, que era um pouco alheio a quase tudo e portanto foi uma formação bastante distanciada do real.

    Isso começou depois a tomar outro pendor, a partir da publicação do inquérito e a partir dum certo interesse que suscitou na classe de profissionais e na escola também, uma espécie de descoberta, de autenticidade da arquitectura popular, da arquitectura do campo, etc. Foi também uma forma de mistificação mas, apesar de tudo, modificou um pouco o estado de coisas, e nós, enquanto alunos, e também com a ajuda dos docentes, obviamente começamos a interessarmos um pouco mais pela realidade, tanto assim, que muito mais tarde veio o 25 de Abril, a escola estava toda directamente ligada ao exterior e foi muito fácil essa ligação. No nosso tempo isso não era tanto assim, o que houve foi um período, de facto, de deslumbramento da descoberta da arquitectura, de raiz autêntica, etc. Isso levou muita gente, entre os quais, eu também a fazer trabalhos de investigação no campo e o meu trabalho de tese – chamava-se tese embora não creio que se pudesse chamar, era um trabalho para obtenção de diploma de fim de curso – foi feito em Rio de Onor, vivi lá um ano, numa aldeia completamente perdida, não tinha nem estrada. Foi um ano riquíssimo por muitas e variadas razões, fundamentalmente ao nível das relações pessoais que se estabeleceram e das descobertas de facto das condições em que viviam as pessoas, era uma aldeia que nem electricidade tinha, isso realmente abriu-me os olhos para muita coisa que nós não conhecíamos, mas por outro lado havia aquele mito que tudo o que era do campo era bom e autêntico e o que era da cidade era mau, o que também não era verdade, de maneira que fiz a escola nesse balanço entre uma grande dose de abstracção, mas já filiado em tudo o quanto era moderno, nos Corbusiers, nos Gropius, etc.”